O que é?
Qualquer atividade que tenha por fim cuidar de conflitos nos âmbitos individual e grupal. Por conflito entendemos um desarranjo relacional que produza sofrimento, podendo se apresentar um sofrimento de ordem individual, grupal ou social. Para cada escala de conflito escolhemos atividades de elaboração distintas. Elaborar conflitos envolve necessariamente entrar em relação, seja com conteúdos internos ou pessoas, por meio de palavras, gestos ou imagens. A maneira escolhida para entrar em relação e a narrativa do conflito dependem da abertura do indivíduo/grupo à técnica escolhida e da intensidade do conflito. As relações conflituosas não são apenas entre pessoas, mas também com idéias e crenças. Estas intervenções podem ser muito ajudadas pelas conversas de supervisão.Por que é importante?
Entendendo a vida como um processo relacional complexo, não podemos concebê-la sem conflitos, uma vez que todo o percurso do amadurecimento humano (físico, racional e afetivo) envolve separações e integrações, do nascimento à finitude. Com isso, não é raro que os alunos estejam passando por algum processo difícil na vida fora do seu vínculo com a instituição. Assim, elaborar os conflitos não é uma atitude exclusiva para o que acontece entre os alunos ou entre estes e a equipe, mas mais frequentemente é uma demanda de cada aluno ou do grupo sobre processos e situações de fora do contexto do curso. Elaborar conflitos é uma necessidade pessoal e profissional importantíssima e sem dúvida fortalece uma prática jornalística mais responsável e madura. É um meio de desenvolvimento autoformativo, sócio-afetivo e moral que cultiva a autonomia do sentimento, o autoposicionamento, a escuta sensível e a empatia.Como usar?
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Para que um mediador possa oferecer um campo relaxado e de confiança para a elaboração de um conflito deve identificar um sofrimento e interpretar a dinâmica da relação ou das relações que o envolvem. Exige uma postura ética profunda com relação a sigilos e o cuidado de tornar-se consciente do próprio julgamento, visto que inevitavelmente sempre vai haver uma expressão da subjetividade do próprio mediador. Esse sofrimento pode ser de um escopo íntimo, se manifestando em uma pessoa isoladamente, ou pode se manifestar no grupo a respeito de questões internas (mesmo que por razões de fora do contexto de aula), ou pode se revelar um sofrimento social, por questões culturais estruturais (racismo, homofobia, machismo, fascismo, autoritarismo, eventos de grande impacto, etc.).
Identificado o sofrimento, é importante checar se uma intervenção é benvinda pelas partes envolvidas. Deve haver um convite direto ou a explicação de certa atividade para que as partes autorizem a ação do mediador. Checar os fatos e deixar claro as impressões sobre os sentimentos que circulam é um bom começo (importante acentuar para os envolvidos que as impressões do mediador não tem mais propriedade que quaisquer outras).
A atividade que se segue pode ser desde uma conversa individual até uma atividade plástica como pintura. O objetivo dessa escolha deve levar em consideração a abertura de cada um à proposta e a consistência do uso de qualquer material gerado (as pinturas, por exemplo). De todo modo o foco é, de alguma forma, dar possibilidade de escuta – do grupo para uma pessoa ou de uma pessoa para o grupo, de uma pessoa para outra, de todos entre todos, etc. Isso implica que a elaboração dos conflitos gera expressões dos sentimentos circulantes, o que pode vir acompanhado algumas vezes de “intensidades afetivas” (choros, raivas, depressões, sarcasmos e cinismos). O mediador deve acolher choros e raivas à medidade de sua própria autenticidade e flexibilidade, não havendo regras para esse tipo de linguagem (abraços, contenções, intervenções mais firmes).
Considerando conflitos como parte da dinâmica da vida, a finalidade da atividade é permitir sua autorregulação, ou seja, que as emoções e representações (quem está “certo” e “errado”, os preconceitos de cada um) implicadas no conflito fluam e sejam reconhecidas. O que se segue deve ser espontâneo e autenticamente criado no processo, sem que o mediador coloque uma saída única, salvo necessário. Esta é uma orientação de “cura”; não se trata de deixar todos contentes no final, mas apenas que as necessidades reais das pessoas sejam legitimadas e produzam um efeito reconhecido no(s) outro(s), como uma reação química, mas de emoções e imagens que fazemos da situação, das pessoas e de nós mesmos. O que parte daí é fruto da autonomia dos envolvidos.
Além deste aspecto fundamental dos afetos, os conflitos muitas vezes precisam de uma “contextualização social”, o que implica situar os serviços públicos que atendem os direitos indicados pelas demandas do conflito. Equipamentos de saúde e serviços do Serviço Social podem atender demandas diversas e os encaminhamentos devem ser apontados como opção, já que a atuação em rede é um compromisso institucional.
Ao final é recomendável checar o entendimento dos contornos e limites de qualquer encaminhamento. Neste ponto deve estar claro para o mediador os contornos e limites de sua atuação como representante de uma instituição. Se necessário, devem haver encaminhamentos a outras instâncias como psicoterapias ou serviços sociais públicos – para isso recomendamos à equipe ter em mãos uma lista com o contato de instituições de interesse (CAPS, CRAS, etc.).
O encerramento da atividade depende, claro, do processo que se deu. Mas podemos apontar algumas sugestões como checar o entendimento do processo, possíveis deslocamentos afetivos e encaminhamentos.