Alunos
Os alunos são o foco de todo processo formativo na Escola de Jornalismo. Devem ser compreendidos como sujeitos em formação, cuja identidade se constrói em constante interação com sua leitura de mundo, colegas, equipe, estando intensamente interessados em suas experiências pessoais e afetivas. A EJ se pretende não somente à capacitação profissional, mas também a oferecer um campo propício para que o jovem possa emergir como um sujeito consciente de si, de suas relações e do mundo.
O aluno não necessariamente tem pretensões claras sobre seu destino profissional. Por isso, o jornalismo também é entendido como ferramenta de diálogo com o mundo, de regulação entre percepções e representações culturais, indispensáveis para a construção de uma identidade que pode muito bem passar por períodos de crises, altos e baixos. Não é incomum que os jovens tomem consciência de aspectos de si mesmos e de sua realidade circundante que desafiam suas pré concepções ou que revelem sofrimentos latentes – o que por vezes pode ser difícil de elaborar. Desta forma, a EJ se pretende também a ser um espaço protegido de elaboração de conteúdos sensíveis ao desenvolvimento do sujeito-aluno.
Cada aluno tem uma trajetória, uma personalidade singular, suas próprias ambições, talentos e dificuldades. Enxergar a singularidade é indispensável para reconhecer diversidade. É importante que o percurso formativo dê espaço às expressões individuais para que a qualidade do compartilhamento possa abranger afetos, símbolos e um campo de confiança para o autoposicionamento.
O grupo
O grupo de alunos não é apenas um agrupamento de pessoas em torno de uma tarefa ou objetivo comum. É necessário que ao longo do processo formativo (de preferência nos primeiros meses) os jovens adquiram a consciência de que as relações entre eles é indispensável para a aprendizagem. Devem estabelecer entre si um vínculo co-formativo, baseado no diálogo, na aceitação das diferenças e no fortalecimento mútuo frente suas realidades, constituindo uma rede de apoio entre eles mesmos. O grupo que passa a ser consciente de seus vínculos torna-se capaz de acolher e catalisar processos de transformação pessoal e de construção de identidade, pois pode se entender nas diferenças e semelhanças, pode compartilhar experiências pessoais, conhecimentos e desafiar a si próprio.
Neste ponto, é importante criar encontros extra-curriculares, sem qualquer objetivo pedagógico que não seja simplesmente oferecer um campo de relações descontraídas e divertidas. Happy-hours, saraus, festas de aniversário, etc. O objetivo é criar circunstâncias de socialização relaxada para que os jovens possam trocar livremente, entender diferenças e semelhanças de repertório, se identificarem uns com os outros e criarem vínculos de confiança e cumplicidade.
É importante considerar que o grupo de alunos vem de um repertório de educação formal que muito frequentemente usa da autoridade e do poder institucional para garantir ordem e produtividade. Isso significa que a autonomia do grupo frente o processo jornalístico deve ser construída, desenvolvida, estimulada, não cobrada logo de cara. À medida em que o grupo ganha repertório de decisões conjuntas e exercita a comunicação interna sobre que comportamentos estão dando certo ou errado, à medida em que pode confiar em seus próprios vínculos, o grupo se torna cada vez mais capaz de compreender a responsabilidade implicada na autonomia.
Se queremos que o grupo se autorregule quanto ao cumprimento de prazos, ajustes de projeto e processo e gestão das relações, precisamos criar condições para isso. A maneira que indicamos aqui é por meio do fortalecimento das relações entre jovens e o planejamento de cada vez mais decisões para eles tomarem e gerirem, partindo de um repertório de escolhas mais simples e localizadas e evoluir de acordo com o que o grupo apresenta em seu desenvolvimento.
A equipe
A equipe são os profissionais que coordenam e acompanham todo o processo formativo. Logo de começo é muito importante que uma coisa esteja clara neste trabalho com jovens: vínculos são inevitáveis. Essa visão de vínculo como meio de trabalho, não apenas como efeito, garante que a equipe entenda seu próprio desenvolvimento a partir da relação com os jovens. Não são apenas “eles” que se desenvolvem ao longo do curso. Dificilmente não haverá alguma afetação da equipe ao entrar em contato com o contexto pessoal dos jovens e estes muito se beneficiam através do apoio empático da equipe. Contudo, são necessários limites para que o vínculo real aja como ferramenta de desenvolvimento mútuo. Vínculos implicam em vulnerabilidade, em sensibilidade, em comprometimento, mas também em contornos, na capacidade de dizer “não”, no reconhecimento de diferenças às vezes irreconciliáveis.
Além disso, os vínculos aqui se dão em um ambiente institucional e seria ingênuo pensar que este fato não reverbera na relação com os alunos. Há limites deste ambiente institucional, assim como do próprio vínculo, para absorver algumas demandas mais graves que podem surgir dos jovens. Por isso, é indispensável que a equipe também seja uma rede de apoio para si própria e saiba refletir sobre sua ação.
A postura da equipe para nutrir os jovens neste percurso é de acompanhamento, escuta e autoposicionamento. Em outras palavras: não julgar, acolher o que vem deles como expressão de seus contextos particulares e ser claro com limites.
Assim como os jovens têm uns aos outros para percorrer o curso, elaborando conjuntamente as dificuldades e transformações pessoais, a equipe também deve encontrar em si mesma os meios de apurar os conteúdos afetivos vividos em sala de aula (VIDE SUPERVISÃO). Como cada um é afetado, o que cada afetação revela da individualidade de cada um da equipe e que rumos tomar em relação a limites e aberturas possíveis é um caminho co-formativo que se revela na equipe.
Além dos vínculos com os alunos, a equipe também desenvolve uma relação entre seus membros, a ser gerida da mesma forma baseada em diálogo, empatia, tolerância, autonomia, para que a equipe possa experimentar os valores que deseja cultivar com os jovens.
Normalmente o que se espera de um curso é que tenha professores, que professem, que profissionalizem; mas o meio para atingir esses resultados frequentemente está baseado no uso de uma autoridade mágica, conferida pelo conhecimento como fonte de poder, ou pela instituição, ou pela maior idade etc. Dado o contexto dos jovens, e em especial um percurso de formação integrada, é crucial que o aluno entenda os limites por sua própria percepção, que se responsabilize pelos vínculos reais que teceu com o grupo e com parceiros externos. O papel da equipe então passa a ser o de facilitar e mediar experiências de percepção, experimentação e organização, se afastando do papel de alguém que sabe frente os que não sabem.
Há um equilíbrio sutil a ser desenvolvido na relação entre alunos e equipe no que tange os limites colocados pelo crivo profissional e técnico e a real disponibilidade de engajamento dos jovens no processo do curso. Há limites que o processo jornalístico coloca que nem sempre podem ser relativizados (prazos, formatos de entrega, compromissos com parceiros, etc). Por outro lado a equipe deve também desenvolver a escuta capaz de identificar limites colocados pelo contexto dos jovens (sua fase de vida, as prioridades colocadas pelo seu contexto, vicissitudes da juventude).
Por fim, convém que a equipe conte com diferentes formações que possam cobrir tanto conhecimentos técnicos quanto sobre olhares mais aproximados da experiência psico-social dos jovens. Nosso exemplo vem da interação entre psicologia e jornalismo, mas formações distintas, assim como sensibilidades distintas, são muito bem-vindas.
A rede
Ajudando a rechear e sustentar o curso como algo atualizado e ligado ao contexto profissional, a rede atua no curso em diversos pontos, contribuindo para aumentar o repertório do grupo sobre atuações, referências, técnicas e visões de mercado. Entendemos por rede as relações com parceiros, amigos, colegas, ex-alunos e demais pessoas de interesse que a escola mantém por perto. A rede pode ser acionada para dar aulas, compor bancas de avaliação, compor a própria equipe, para parcerias de distribuição ou consultorias sobre formatos, produtos e pautas. Basicamente são dois atores que compõem esta rede:
Profissionais voluntários: convidar profissionais para dar aulas demanda ser claro com as necessidades de conteúdo e técnica e apoiar a criação de um material original e pertinente ao momento do curso em que se insere. A riqueza no contato com profissionais do mercado inclui a oportunidade de uma troca com os jovens afora o conteúdo programado em sala, deixando-os serem entrevistados pelos alunos sobre sua trajetória profissional e repertórios pessoais. É normalmente um proveito de mão dupla: os alunos podem contribuir muito para o olhar do jornalista profissional que pode já ter se distanciado de sua formação. A distância geracional entre alunos e profissionais convidados apresenta também um repertório de futuro que pode ser inspirador. Atenção à diversidade dos convidados! Tanto a equipe quanto os convidados assumem um papel de referência diante dos jovens. Faz diferença se essa referência, de engajamento profissional, de organização, de criatividade, de mudança de condição social, etc, reflete a matriz da identidade dos jovens. Tem profissionais pretos, mulheres? Tem representatividade LGBT? E das culturas periféricas?
Ex-alunos: o envolvimento de ex-alunos promove o fortalecimento de uma auto-estima profissional para ambos. Há uma identificação maior do que com profissionais voluntários muitas vezes e isso pode mobilizar os alunos a acreditarem no percurso formativo e na profissão. Esta rede também tem como papel a criação de autonomia da própria escola – que pode ser futuramente gerida por ex-alunos.